Quem sou eu

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Nasci em São Paulo, moro em Campinas - SP, desde 1974. Casado, dois filhos e um cachorro, professor na Unesp (ora aposentado), pacato cidadão, punk nas poucas horas vagas. Tenho umas coisas escritas circulando por aí, todas muito sérias. Edno Gervásio Jr - personagem misterioso, heterônimo anagramático, o mais inteligente e modesto da turma.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O surto acaciano

Edno Gervásio Jr

Das grandes inutilidades da espécie humana que habita o Brasil, os acacianos são dos mais sufocantes. Quando Eça de Queirós descreveu com precisão o Conselheiro Acácio, é evidente que tinha pelo menos um exemplo-demonstração, seja no tipo físico, seja (principalmente) no tipo social. E o personagem toma corpo e se multiplica em incontáveis circunstâncias aqui no além-mar, antes se apoiando em verbetes de dicionários, enciclopédias, jornais e revistas de variedades, hoje prescindindo dessas muletas porque tem a internet a seu dispor. O acacianismo invadiu e dominou a cultura, os esportes, a educação. Qualquer um se arroga autoridade e profundo conhecedor de qualquer assunto: das táticas de badminton, da qualidade da música atonal, da necessidade de se amordaçar a opinião de um professor. Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1965, propôs um método para conhecer qualquer assunto com propriedade, fazendo-o o mais simples que for possível e deixando claro o que já está compreendido e o que falta entender. Esse método é o contrário do pedantismo acaciano, É muito mais fácil manter-se na superfície das generalidades confortáveis que enfrentar desafios ao saber e trazê-lo de maneira clara e simples.
18/08/2016

Da crônica temporal e da crônica atemporal

Edno Gervásio Jr
Bons dias! (à moda de Machado de Assis, cronista atemporal)
As definições de crônica mais comuns indicam que é um texto curto, autoral, com um comentário a respeito de um assunto que está circulando no momento ou trazendo algo anedótico ou pitoresco. Normalmente, a crônica se apresenta num local onde os leitores (ou ouvintes, ou assistentes) já estão acostumados a encontrá-la, em uma forma e linguagem próxima de um padrão do autor. Enfim, é uma comunicação rápida, agradável, descomplicada e confortável. Quase sempre, é claro.
O autor da crônica permite-se variar da pessoa que escreve, da opinião pessoal aos diálogos fictícios de terceiros. Qualquer assunto se permite, desde que o leitor/ouvinte/assistente entenda e acompanhe o raciocínio até o fim. E, de preferência, que concorde com o que leu/viu/assistiu. Assim, pode se construir uma audiência fiel e cativa, às vezes participante.
Há assuntos atemporais, que revistos tempos depois de sua produção mantém o frescor e interesse. E há os temporais - tanto com seu interesse  limitados no momento quanto os que provocam tempestades e instabilidades.
Ao cronista, cabe treinar sua pena (sim, hoje é o teclado) e sua vontade para atender aos leitores/ouvintes/assistentes eventuais que tenham a ousadia de acompanhá-lo. E de descobrir, nas palavras usadas, charadas, segredos, mistérios e sentidos aparentemente ocultos - mas simples e evidentes.
17/08/2016