Quem sou eu

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Nasci em São Paulo, moro em Campinas - SP, desde 1974. Casado, dois filhos e um cachorro, professor na Unesp (ora aposentado), pacato cidadão, punk nas poucas horas vagas. Tenho umas coisas escritas circulando por aí, todas muito sérias. Edno Gervásio Jr - personagem misterioso, heterônimo anagramático, o mais inteligente e modesto da turma.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Medida por medida

Daqui a alguns milhares de anos, um observador de outro local de Universo apontará aleatoriamente o seu eventual instrumento para um ponto qualquer do espaço e topará com um cisquinho azulado pertinho de uma estrela da periferia de uma pequena constelação comum e muito semelhante a tantas outras. Não há nada de extraordinário nessa área do Cosmo. Mas, se esse observador tiver o predicado do humor, irá dar muitas risadas do que se passa (passou?) nesse cisquinho.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Tem jeito

Se no âmbito nacional a coisa está uma sofrência, em alguns espaços ainda sobrevive o bom senso. Nem todos são enganados e nem todos se enganam todo o tempo. Um dia o bilontra "ishperrto", grandalhão de cabelos brancos perceberá que só consegue ganhar quando não tem mais nem quem queira os dejetos finais da digestão. Lamento pelos iludidos e pelos seus acólitos.
Os iludidos vão de boa fé.
Os acólitos sabem de sua própria incompetência e ficam na moita.
O bilontra é o mais perigoso, pois é um destruidor - não sabe que é ignorante e incompetente. Levanta o nariz e fala platitudes acacianas. E se arroga o grande líder de ninguém.
Parodiando Fernando Pessoa, "o bilontra  é um fingidor. Finge tão completamente que pensa que é inteligente a bobagem que tem na mente".

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Marxismo darwinista

Edno Gervásio Jr
Atribui-se a Tom Jobim a frase "o Brasil não é para principiantes". Quem olha um pouco além da viseira opaca da mídia - a do balcão de secos e molhados* e dos negócios clandestinos - identifica, com escusas à redundância, particularidades únicas. Uma delas é a criação do marxismo darwinista: aqui, a contradição entre capital e trabalho se resolve através da involução da espécie e da vitória dos menos aptos à sobrevivência, que o fazem destruindo tudo o que pode garantir a permanência da espécie. De pé, ó vítimas das políticas sociais, derrubem as amarras dos custos da justiça social e dos monopólios da exploração do pouco que vale o solo! Exaltem os grotescos acompanhantes do ofídico golpista, e cantem os fortes e opressores! Admirem a bela, recatada e Dólar, brega como as nova-ricas e os mauricinhos reacionários. Aqui, o relógio anda para trás, e a história também (apesar do Oswald de Andrade ter descrito o oposto). Luta de classes, nesse território dominado, agora é entre os ultra-conservadores e os fascistas. A esquerda, darwinisticamente, degenerou e foi engolida pela involução pré-colonial, pelas sinecuras da concepção leninista  de partido e pelo conformismo confortável da contramarcha da História. O que vou dizer para os meus netos?

* Millôr Fernandes, num momento inspirado, escreveu que imprensa é oposição, o resto é balcão de secos e molhados.

Não é um Haikai - Aí, caí e logo levantei, volume II

As constelações
São perdigotos
Da criação

Não é um Haikai - Aí, caí e logo levantei

Vejo as estrelas
A poeira cósmica
Me faz espirrar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O surto acaciano

Edno Gervásio Jr

Das grandes inutilidades da espécie humana que habita o Brasil, os acacianos são dos mais sufocantes. Quando Eça de Queirós descreveu com precisão o Conselheiro Acácio, é evidente que tinha pelo menos um exemplo-demonstração, seja no tipo físico, seja (principalmente) no tipo social. E o personagem toma corpo e se multiplica em incontáveis circunstâncias aqui no além-mar, antes se apoiando em verbetes de dicionários, enciclopédias, jornais e revistas de variedades, hoje prescindindo dessas muletas porque tem a internet a seu dispor. O acacianismo invadiu e dominou a cultura, os esportes, a educação. Qualquer um se arroga autoridade e profundo conhecedor de qualquer assunto: das táticas de badminton, da qualidade da música atonal, da necessidade de se amordaçar a opinião de um professor. Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1965, propôs um método para conhecer qualquer assunto com propriedade, fazendo-o o mais simples que for possível e deixando claro o que já está compreendido e o que falta entender. Esse método é o contrário do pedantismo acaciano, É muito mais fácil manter-se na superfície das generalidades confortáveis que enfrentar desafios ao saber e trazê-lo de maneira clara e simples.
18/08/2016

Da crônica temporal e da crônica atemporal

Edno Gervásio Jr
Bons dias! (à moda de Machado de Assis, cronista atemporal)
As definições de crônica mais comuns indicam que é um texto curto, autoral, com um comentário a respeito de um assunto que está circulando no momento ou trazendo algo anedótico ou pitoresco. Normalmente, a crônica se apresenta num local onde os leitores (ou ouvintes, ou assistentes) já estão acostumados a encontrá-la, em uma forma e linguagem próxima de um padrão do autor. Enfim, é uma comunicação rápida, agradável, descomplicada e confortável. Quase sempre, é claro.
O autor da crônica permite-se variar da pessoa que escreve, da opinião pessoal aos diálogos fictícios de terceiros. Qualquer assunto se permite, desde que o leitor/ouvinte/assistente entenda e acompanhe o raciocínio até o fim. E, de preferência, que concorde com o que leu/viu/assistiu. Assim, pode se construir uma audiência fiel e cativa, às vezes participante.
Há assuntos atemporais, que revistos tempos depois de sua produção mantém o frescor e interesse. E há os temporais - tanto com seu interesse  limitados no momento quanto os que provocam tempestades e instabilidades.
Ao cronista, cabe treinar sua pena (sim, hoje é o teclado) e sua vontade para atender aos leitores/ouvintes/assistentes eventuais que tenham a ousadia de acompanhá-lo. E de descobrir, nas palavras usadas, charadas, segredos, mistérios e sentidos aparentemente ocultos - mas simples e evidentes.
17/08/2016